Monday, January 31, 2005

Crime e Castigo, Dostoiévski

“(...) Compreendia agora que passara o tempo de sofrer passivamente, e das lamentações que nada resolvem; agora cumpria fazer fosse o que fosse, o mais depressa possível. Era necessário tomar desde já uma resolução qualquer ou...
“Ou renunciar à vida!”, exclamou ele subitamente, “aceitar, de uma vez por todas, o destino como ele é, sufocar todas as aspirações, abdicar definitivamente ao direito de ser livre, de viver, de amar!...” (Crime e Castigo, pág. 56).


Acabo de ler "Crime e Castigo" de Dostoiévski e fiquei encantado com o livro e com o autor. A profundidade com que descreve o caráter dos personagens e a habilidade com que nos fala de seus pensamentos e atitudes, descreve situações, é incrível. Acabei o livro e pensei: ele bem poderia ter continuado a escrevê-lo por mais 500 páginas se quisesse, tranquilamente. E eu certamente acompanharia 'preso' ao livro, como fiquei durante esses dias de leitura.

Bom, mas não vou comentar mais sobre o livro em si agora. Recomendo que, se tem interesse, passe no clube de leitura do LLL. Logo, depois do dia 30, pipocarão comentários interessantes sobre o livro em diversos blogs. E o LLL será o ponto de encontro.

Gostei do livro editado pela Martin Claret. É simples, tem um questionário no final do livro para te estimular a refletir sobre a obra e - o melhor - o preço não é o olho da cara. Mas achei que a capa não reflete o conteúdo de forma adequada. Na primeira vez que a vi na livraria pensei que o livro tinha como tema principal o romance entre um casal rico (o castelo dá essa idéia de riqueza) e alguém próximo ao casal que trava com eles alguma relação de conflito (diga-se de passagem, gostei muito do desenho desse cara.. sustenta um olhar instigante, revelando a habilidade do desenhista). Pareceu-me que o livro girava o tempo todo sobre esse tema e não ia muito além disso, o que não me atraiu. Essa foi minha primeira impressão através da capa.. mas não me deixei levar por ela, pois já estava disposto a comprá-lo, estimulado pelas recomendações de amigos e do clube de leitura do LLL. Agora - após ter lido o livro - reafirmo que essa capa não é mesmo adequada.

A capa da versão da Editora 34 ocupa-se em demonstrar os conflitos internos do personagem principal, que é onde se encontra a beleza do livro e em que Dostoiévski revela sua majestosa habilidade descritiva. O ‘corte’, a proximidade, coloca toda nossa atenção à expressão do rosto; não há distrações. A expressão grave é revelada através da parte ‘iluminada’ do rosto, e, junto com a outra metade escondida na escuridão, representa a essência do livro, os conflitos do personagem: ora sentindo correr ardentemente em suas veias a vida e a vontade de viver, ora pronto a suicidar-se.

Se há algo que gostaria que mudasse era que o nome do autor fosse menor e estivesse abaixo do título. Talvez a decisão de colocá-lo acima do título e quase do tamanho deste tenha sido ‘meramente’ comercial. Pois bem... uma boa capa, além de estar em sintonia com o conteúdo do livro, deve também ajudar a vendê-lo. Não é esse também objetivo do design gráfico? É uma ótima capa.

Em uma rápida pesquisa no google e na amazon encontrei algumas capas estrangeiras. Percebe-se que muitos seguem a linha que a 34 adotou, utilizando ilustrações que demonstram um homem de aspecto sombrio, com ares pensativo. Ao que me parece duas delas utilizam fotos do próprio Dostoiévski. Muito bom, as imagens nos passam muito de Raskólnikov, personagem principal do livro.



Obs.: Encontrei também um belo trabalho em xilogravura que retrata uma das partes mais interessantes do livro, quando Raskólnikov conversa com Sônia em seu quarto. Só não reproduzo a imagem aqui por causa de algumas linhas no final do site: "No part of this web site may be reproduced, in any form, by any means, including mechanical, electronic, photocopying, or otherwise, without prior written consent of Stephen and Sabina Fascione Alcorn." (Oh, céus! Que se espalhe logo a Creative Commons! Estaria eu roubando a imagem apenas reproduzindo-a aqui? Bah! Visitem o site, vejam a imagem e deixem eles que se surpreendam ao verem algumas visitas vindas desse blog e exclamem: "WTF is this guy talking about us?" Creative Commons!!) :P



(update) Er... olha o que eu achei:

Capa do filme "Crime e Castigo". Qualquer semelhança com a capa do livro editado pela Martin Claret é mera concidência! :P

6 comments:

Anonymous said...

guarda esse post pra segunda.... :) e valeu pela divulgação....

Anonymous said...

alias, excelente o post, mas tinhamos combinado começar todos a falar juntos de crime e castigo ao mesmo tempo... sua contribuição, estudando diversas capas, está otima...

Rafael said...

A pedido do Alexandre e pra estar em conformidade com as regras do clube de leitura LLL, guardei esse post para hoje, dia 31 ;) Vlw Alexandre, []'s!

Anonymous said...

Oi,

Adorei seu ponto de vista! É o que eu realmente esperava do Clube de Leituras!

Quanto às capas, adorei mesmo foi aquela que tem uns retangulos amarelos.

A minha edição é também a da Martin Claret. Eu gostei, afora alguns erros de português e a capa he! he! he! Aquele castelo não faz o menor sentido, na própria descrição do livro a Sõnia não era bem assim (mas o desenho em si é muito bom!).

Quanto à ilustração que você recomendou, não gostei. Parece mais a Sõnia como superior e o próprio Dotô e o Ródia os colocaram como absolutamente iguais pois ambos mataram uma vida: um a da velha, por Ródia, e o outro a própria, com a prostituição de Sõnia, o que é mais um suícidio no livro, o terceiro...

Diego, Palavreando.com

Rafael said...

Olá Diego, Mauro, obrigado pela visita!

Diego, você saberia nos dizer pq gostou da capa dos retângulos amarelos? Só curiosidade ;) Concordo com você que aquele castelo não faz nenhum sentido.. o único motivo que vejo para ele estar lá é o fato de tentar contextualizar o romance como sendo na Rússia. Só isso.. mas não justifica.

Você tem razão com relação à ilustração. Eu mal enxerguei isso.. sou mais ou menos assim: quando ouço uma música, estabeleço uma relação particular e única com ela: dou à ela a minha própria interpretação. Quando vejo o clipe da música, recuso-me a deixar de lado a minha interpretação, apesar do clipe muitas vezes mostrar a intenção do artista ao criá-la e esta ser diferente da minha interpretação. Com a ilustração percebo que aconteceu o mesmo.. já a olhei guiado por minha relação criada a partir do livro e não enxerguei essa superioridade da Sônia que, após o seu comentário, agora percebo. No entanto ainda gosto dela.. :P (há de se levar em consideração que gosto muito de xilogravura também :))

Mauro, eu acho que a capa da Martin Claret tentou refletir os pontos principais do romance (acontece na Rússia, há um casal de importância central..) mas não conseguiu. Gostei do Porfiry lançando seu olhar para Raskólnikov (e isso só me dei conta agora).. mas este parece ter como única preocupação estar com Sônia, mas sabemos que não é esse o 'tema' do livro. O castelo nada tem a fazer ali a não ser atrapalhar. Sônia não parece rica por causa dele? No entanto sabemos como era pobre..

[]'s!

Anonymous said...

o castelo é a igreja de são petersburgo