Tuesday, December 14, 2004

Estudo "Design Gráfico - uma história concisa", parte III

Essa é a parte III (veja parte I e II) de uma série sobre o estudo do livro "Design Gráfico - Uma História Concisa", de Richard Hollis.


A influência das xilogravuras japonesas na arte francesa no final do século XIX e início do do século XX


"Snow at Shinobazu Pond, Ueno", de Ando Hiroshige



Na página 6, Hollis diz:

"Os contornos firmes e as cores uniformes refletem a paixão do artista pelas xillogravuras dos japoneses, cujos trabalhos, exibidos nas feiras mundiais de Paris em 1867 e 1878, exerceram uma influência dominante na estética daquele período. Até mesmo os designs de caracteres tipográficos (como os de Auriol) imitavam os caracteres japoneses. As gravuras japonesas e a influência da fotografia estimularam o uso do espaço no retângulo vertical, algo incomum na época."


Trabalho de Suzuki, Harunobu

Quis conhecer um pouco mais sobre a xilogravura japonesa, buscando entender melhor sua influência no design de pôsteres franceses. Encontrei o texto: "Vision of People: The Influences of Japanese Prints - Ukiyo-e Upon Late Nineteenth and Early Twentieth Century French Art", de Patricia Flynn, que parece ser uma parte de um guia para aulas de arte.

Trabalho de Mary Cassatt


Nesse trabalho está escrito que o Japão permaneceu fechado às influências externas até a segunda metade do século XIX, por decreto do governo iniciado por Tokugawa Ieyasu, em 1603, com receio de que houvesse conspiração contra seu governo envolvendo estrangeiros. Em 1616 não era permitida a entrada de nenhum estrangeiro e nem mesmo a saída de nenhum japonês do país; qualquer livro que tivesse relação ou fosse escrito por estrangeiros era queimado ou recolhido pelo governo.
Com o crescimento de cidades como Edo(Tokyo) e Osaka, mudanças foram ocorrendo na estrutura feudal e nas divisões de classes. "Uma nova classe média começou a desenvolver um gosto por teatro, novelas românticas ou cômicas e artes visuais que no passado eram privilégio das classes ricas. Uma popular e realística forma de teatro, conhecida como Kabuki, tornou-se um dos mais importantes modos de entretenimento".

Trabalho de Kitagawa Utamaro


Os artistas de Ukiyo-e - um método de impressão parecido com xilogravura -, sofreram influências dos temas tratados no Kabuki (heroísmo, tragédia, etc), bem como utilizavam temas do dia a dia nas grandes cidades e as paisages japonesas. "The word ukiyo-e means a picture of the 'floating world'. It was derived from Buddhist religious interpretation that described man's life on earth as unhappy, a stage to go through along the road to salvation. It came to depict a portrayal of the pleasures of life that helped to relieve the restraints of urban Japanese life".
Ukiyo-e apresenta diversos elementos no design que estão em contraste com a arte ocidental nesse mesmo período:

  • A ilusão de profundidade (perspectiva) ocidental não existe;

  • O artista usualmente sentava com as pernas cruzadas sobre seu papel e o via como plano. Seu trabalho final é para ser visto próximo aos olhos, em contraste com as telas ocidentais, que foram criadas com a intenção de serem vistas na altura dos olhos e à distância;

  • O conteúdo emocional do ukiyo-e envolve o uso de um sistema bastante complicado de iconografia. Símbolos são representados através de color posture e uso de animais: pássaros, peixes.


Trabalho de Ando, Hiroshige

Uma das regras (derivada dos chineses) mais importantes do ukiyo-e é o método para se criar o senso de perspectiva: a parte de baixo do quadro deve representar o que está próximo ao espectador, enquanto que o espaço acima demonstra o que está longe. As linhas devem convergir conforme se aproximam do primeiro plano e devem crescer em largura conforme retrocedem ao 'fundo'.

Todos os materiais usados no ukiyo-e eram derivados de plantas ou minerais.

Sobre a chegada do ukiyo-e na Europa:

During the period of time that the ukiyo-e print was suffering its demise in Japan, it was having a vital impact upon artists and writers in Europe, especially in Paris. Many reasons accounted for the appeal of Japanese art. During this time imperialism in Europe had brought about an interest in other cultures of the world. With the opening of Japan to trade its culture was revealed to Europeans as being not only unusual and strange, but refined and elegant. Japanese culture was conveyed to European intellectuals as possessing artistic values in all aspects of its life. This condition was attractive in light of some of the depressing qualities of the new industrial society in Europe. The refreshing spirit of Japanese art offered a creative alternative to artists who were weary of the Greco-Roman styles of art that were popular at the time.

Examples of Japanese art appeared in the stores and shops of Paris, London, the Hague and Leiden. The mass appeal of Japanese artifacts ranged from albums of prints(ukiyo-e) to fans, clothing, textiles and food.

Trabalho de Utagawa Kuniyoshi

Cinco artistas, selecionados nesse trabalho, que exerceram grande influência sobre os artistas impressionistas de Paris no final do século XIX são:


Trabalho de Tolouse Lautrec

Hokusai, com seu trabalho Manga, exerceu influência sobre os artistas franceses interessados na xilogravura japonesa. Van Gogh ficou fascinado com os trabalho de Hiroshige quando estes chegaram à França.

Cinco artistas, selecionados nesse trabalho, que sofreram grande influência do ukiyo-e foram:



Trabalho de Katsushika, Hokusai

Degas colecionou xilogravura japonesa na década de 1860, que aos poucos influenciou sua pintura. "His figures are placed asymmetrically and on a diagonal with partitions. Degas estudou o Manga de Hokusai que o levou a observar seu próprio mundo de forma mais clara. Ele procurou capturar a essência por trás do dia a dia. Seus assuntos preferidos eram mulheres em seus rituais diários, dançando no ballet, trabalhando no circos e no café.

O estilo de Mary Cassat sofreu influências das xilogravuras japonesas, principalmente dos trabalhos de Harunobi e Utamaro. O trabalho de Gauguin reflete sua admiração pelas linhas e cores 'chapadas'; eliminou o uso de sombras em seu trabalho após conhecer os trabalhos ukiyo-e. Van Gogh colecionou trabalhos ukiyo-e e tentou identificar-se com esses trabalhos desenhando com reed pen e tentando colocar em prática o conceito japonês de comunidade de artistas ajudando-se mutuamente'. Lautrec foi fascinado por arte japonesa e estudou o trabalho de Hokusai, Utamaro e Harunobu. 'Lautrec revolucionou a arte de fazer posteres borrowing Japanese woodcut compositional devices.'

1 comment:

Marco Moura said...

li um livro bibliográfico do van gogh
e falava a respeito da influência das ilustrações japonesas, mas não mencionou que a comunidade de artistas também foi influência japonesa..

muito legal os post ( li todos os 3) e o livro.

parabéns